O Concelho de Cascais – Breve resenha histórica
Encontram-se vestígios de fixação de populações no concelho de Cascais desde a pré-história. Estes vestígios, (que normalmente se vão sobrepondo uns após outros nos mesmos locais), remontam ao Paleolítico, contudo, os vestígios mais importantes são do período calcolítico (período de transição entre o neolítico e a idade do bronze, caracterizado pelo início da utilização do cobre, a que se segue depois o bronze e finalmente o ferro), de há cerca de 4.000 anos atrás, época a que pertencem os povoados da Parede e do Estoril, e as grutas naturais e artificiais utilizadas como necrópoles: Porto Côvo (a Norte de Alcabideche), Poço Velho (no centro da vila), Alapraia (perto de S. João do Estoril) e S. Pedro do Estoril. Das suas escavações saiu um importante espólio cerâmico, do qual fazem parte magníficos vasos campaniformes com decoração geométrica, alguns únicos no mundo pelo seu modelo e dimensões. Os espólios destas escavações encontram-se na sala de Arquelogia Eugénio Jalhay e Afonso do Paço, do Museu Condes de Castro Guimarães, que foi ináugurada a 5 de Abril de 1942. Os materiais de Porto Côvo foram para o Museu dos Serviços Geológicos. De Alapraia destacam-se, os vasos campaniformes, as sandálias em calcário, as placas de xisto, os ídolos cilíndricos, uma lúnula em calcário. Dos achados de S. Pedro sobressaem, as taças de pé, os anéis de ouro em espiral. Do espólio do Poço Velho salientam-se, os micrólitos (pequeno sílex talhado - denunciando uma época mais recuada), os “coelhos” em osso.
Também são inúmeros os vestígios romanos. Os romanos ocuparam a região no século I da nossa era, tendo a população indígena sofrido desde logo um processo de romanização. No povoado de Casais Velhos (Areia - perto do Guincho), datado do século IV, encontraram-se termas bem conservadas e tanques destinados provavelmente a tinturaria. Também na Sala de Arqueologia, Eugénio Jalhay e Afonso do Paço, se encontra material do período romano proveniente das escavações: de Casais Velhos, da necrópole tardo-romana de Talaíde, das villae do Alto do Cidreira (Carrascal de Alvide) e de Freiria (S. Domingos de Rana). Existe também no Museu uma secção lapidar ao ar livre que inclui a maior parte das inscrições romanas encontradas no Concelho, sobretudo epitáfios datáveis do século I d.C. Nessa secção existem igualmente diversas pedras decoradas atribuíveis ao período visigótico, assim como cabeceiras de sepulturas medievais.
Nas escavações realizadas na porta existente do Castelo encontraram-se cetárias romanas, tratando-se de parte de um complexo industrial para salga e fabrico de pastas de peixe, o que evidencia a utilização de Cascais como porto de pesca e local de existência de uma indústria conserveira romana, de preparados piscícolas e peixe salgado. Neste local detectaram-se ainda indícios de outras construções de boa qualidades, com funções que actualmente se desconhecem (entre outros vestígios, foi encontrado um capitel de coluna toscana, idêntico a outro encontrado na villa romana de Freiria).
Em Cascais encontram-se igualmente vestígios visigóticos e muçulmanos. Pensa-se que a Igreja Matriz se encontra no local onde existiu uma necrópole visigótica. Para além da toponímica há notícias de uma torre moura que ruíu com o terramoto de 1755, e da qual existe um desenho datado de 1594 atribuído a Filipe Tércio.
Em relação aos muçulmanos os vestígios são variados, mas destaca-se a povoação de Alcabideche e o seu conhecido poeta Ibn Mucane.
Do antigo Castelo Medieval, (cuja fundação ainda não de encontra datada, levantando-se as hipóteses de ser moura, visigótica ou mesmo romana, visto que parte das muralhas assentam directamente sobre vestígios da época romana), destruído na sua maior parte no terramoto de 1755, resta apenas um troço da muralha e uma torre, (que se pode ver na rua Marques Leal Pancada) vendo-se de um lado uma pedra de ombreira para a tranca e do outro o brasão dos Castros. Mais acima vê-se um arco de entrada para o castelo (tendo no entanto as escavações realizadas comprovado que torre ainda existente é a primitiva torre-porta do castelo, que sofreu diversas alterações, devido à necessidade de a adaptar às tácticas de guerra dos períodos seguintes, em que as armas de fogo passaram a ter maior predominância). O antigo castelo ia da rua Marques Leal Pancada até perto das muralhas da cidadela onde está actualmente a casa do Conde de Monte Real.
Ainda (na opinião de Guilherme Cardoso), os números um e dois do actual Largo Luís de Camões são construções quinhentistas, sucessivamente reconstruídas. No edifício das Finanças (no largo 5 de Outubro), uma recente sondagem arqueológica revelou, no seu subsolo uma sucessão de ocupações que remontam ao final do século XV.
Bibliografia:
ANDRADE, Ferreira de, Cascais, Vila da Corte, Oito Séculos de História, Câmara Municipal de Cascais, 1990 (Edição fac-similada 1964)
COLAÇO, Branca de Gonta, e ARCHER, Maria, Memórias da Linha de Cascais, Câmara Municipal de Cascais, Câmara Municipal de Oeiras, 1999 (Edição fac-similada 1943)
ENCARNAÇÃO, José da, Cascais, guia para uma visita, Câmara Municipal de Cascais, Cascais 1983.
SILVA, Raquel Henriques da, Cascais, Editorial Presença, Lisboa, 1988
ARQUIVO DE caSCAIS, Boletim Cultural do Município, nº12, 1996, pp 127 a 145 - Escavações Arqueológicas junto à torre-porta do Castelo de Cascais, de João Cabral e Guilherme Cardoso
folhetos da Sala de Arqueologia Eugénio Jalhay e Afonso do Paço, ed. Câmara Municipal de Cascais